TikTok registra aumento no interesse pelo Brasil, incluindo por viagens
O interesse pelo Brasil tem aumentado a cada dia. Pelo menos é o que diz o TikTok: dados recentes da plataforma compartilhados com o CNN Viagem & Gastronomia revelam um aumento de 80% nas buscas globais pelo termo “Brazil” em 2024 em comparação com o ano anterior.
Uma rápida procura na plataforma indica que, atualmente, a hashtag “Brazil” soma mais 7,3 milhões de conteúdos. Os números também acabam refletindo o setor de viagens: segundo o TikTok, as publicações relacionadas ao país aumentaram 33% em 2023, sendo 30% do conteúdo relacionado ao turismo.
O crescente interesse pelo país fez com que um “efeito de relações públicas” orgânico se desenvolvesse, resultando em trends de usuários estrangeiros sobre viagens ou planos de conhecer o país.
“Dizemos que o TikTok tem um impacto cultural. E esse impacto cultural se expande para além do conteúdo. Os criadores impactam as suas comunidades, porque conseguem encontrar pessoas que se importam com aquilo. Imagine pessoas interessadas em viagens e que estejam interessadas no Brasil. Isso produz um efeito na vida real”, diz Maíra Carvalho, diretora de operações do TikTok no Brasil.
Não há uma resposta clara que explique minuciosamente o aumento do interesse, mas a diretora aposta que a música, a estética, a cultura, a comida e as nossas cidades têm feito a diferença. “Acho que o Brasil é interessante por si só. A outra coisa é que há vários criadores que encontram conversas apaixonantes”, afirma.
Aumento dos turistas internacionais
A ampliação das publicações relacionadas ao Brasil coincide com o aumento da chegada e dos gastos de estrangeiros no país. Nos nove primeiros meses de 2024, entre janeiro e setembro, cerca de 4,9 milhões de visitantes internacionais desembarcaram no Brasil, o que corresponde a um acréscimo de 12% em relação ao mesmo período de 2023. Os dados foram divulgados pelo Ministério do Turismo em parceria com a Embratur e a Polícia Federal.
A soma dos gastos destes turistas nos nove primeiros meses também quebrou um recorde: foram deixados R$ 30,82 bilhões na economia, o melhor resultado para o período nos últimos dez anos, o que responde a um crescimento de 25%, segundo o Banco Central.
A Embratur projeta que o Brasil feche o ano com o registro de 6,6 milhões de turistas internacionais. O número representaria um aumento de 11,8% em relação a 2023, quando foram registrados 5,9 milhões deles em solo nacional. E tem mais: a expectativa é chegar aos 8,1 milhões de visitantes estrangeiros no país em 2027.
Sucesso entre os “gringos”
Camiseta verde e amarela, vídeos da seleção, praias e o Cristo Redentor. Entre milhões de conteúdos, estes são alguns dos denominadores comuns que fazem parte da busca na hashtag “Brazil”. O Rio de Janeiro, inclusive, parece ser a cidade preferida dos estrangeiros que visitam o país e que postam na plataforma. São mais de 2,4 milhões de vídeos com a hashtag #RiodeJaneiro e mais de 11,8 milhões com a localização marcada.
Uma série de vídeos publicados neste ano por estrangeiros dizem: “Esta é sua deixa para vir ao Brasil”. Eles mostram alguns dos passeios na Cidade Maravilhosa, incluindo o Carnaval no Sambódromo, tardes na praia, visita a Escadaria Selarón e tours pela favela. A trilha sonora é a mesma, um remix de funk.
@tomtravel99 Brasil Rio de Janeiro 🇧🇷#brazil🇧🇷 #riodejaneiro #copacabana #cristoredentor #ipanema #brasil
Um vídeo de oito segundos que mostra o pôr do sol em Ipanema acumula 1,5 milhão de curtidas e mais de 6,6 milhões de visualizações. Outro mostra o Cristo Redentor a partir de um passeio de helicóptero e soma 3,9 milhões de curtidas e mais de 28 milhões de visualizações.
“Quem quer que esteja fazendo as relações públicas do Brasil, deu certo. Com a quantidade de TikToks que eu vi, estou a um passo de reservar um voo e curtir a vida noturna”, diz um vídeo do perfil @2.ade postado em março. O conteúdo acumula mais de 1,7 milhão de visualizações.
Alguns foram mais longe: residente de Atlanta, nos Estados Unidos, o usuário @wowkarauhl fez um vlog de sua viagem ao Rio em abril. “A promoção do Brasil está dando certo. Por que estou no aeroporto nervoso agora?”, publicou, antes de pisar em solo nacional, com um vídeo que soma mais de 900 mil curtidas e cinco milhões de visualizações.
A viagem solo rendeu vídeos que incluem momentos na praia, passeios de moto com guia e até voo de parapente. Um dos vídeos mostra o criador de conteúdo com uma camiseta verde e amarela com os seguintes dizeres: “Quando você estava nervoso para viajar sozinho ao Brasil, mas todo mundo te trata como família”.
O que engaja?
Afinal, o que faz um vídeo ser viral? Segundo o TikTok, que tem uma base de 1 bilhão de usuários no mundo, não há uma fórmula milagrosa, mas algumas “dicas de ouro” podem reter mais a atenção dos usuários. Número de seguidores, por exemplo, não são sinônimo de distribuição.
A primeira coisa é ter uma construção de narrativa que seja interessante. Você precisa segurar a atenção das pessoas, então os primeiros três segundos são muito importantes. Não é uma métrica baseada no tamanho da conta. Outra coisa muito importante é: como você entra numa conversa que existe? A gente fala de trends
Maíra Carvalho, diretora de operações do TikTok no Brasil
Na plataforma, muitos são os conteúdos referentes aos Lençóis Maranhenses por criadores brasileiros. A beleza deste Patrimônio da Unesco é o tema dos vídeos. Mas um olhar diferente para o mesmo lugar também ajuda a mostrar mais do Brasil para os próprios brasileiros. Você sabia que há areia movediça entre as dunas? Ou ainda que é possível encontrar água debaixo da areia, cavando e chegando ao lençol freático?
É o que mostra o casal Laís e Renan Jereissati, por trás do perfil @traveleiros, que soma 2,9 milhões de seguidores na plataforma. O primeiro vídeo tem 10,5 milhões de visualizações, enquanto o segundo conta com 11,6 milhões.
“Um fator que usamos como parte da criação de conteúdo é despertar algum tipo de emoção no público. Antes o conteúdo era muito engessado, precisava ser a foto perfeita, mas trouxemos um pouco da realidade no nosso perfil. Com um conteúdo mais real, cheio de imperfeições, nos conectamos mais com o público”, diz o casal, que foca no olhar mais curioso.
Do Acre ao Mato Grosso
@traveleiros Responder a @roselialves05 cobra e jacaré? Que nada! Bora nadar! #brasil #coragem #rio #viagem #riocroa #vanlife
No interior do Acre, o Rio Croa virou um atrativo turístico devido a vegetação verde que encobre suas águas, com pousadas e restaurantes da comunidade ribeirinha nas redondezas.
Laís e Renan já haviam visto conteúdos sobre o local, mas sempre tiveram a dúvida se poderiam se banhar naquelas águas. Foram lá e tiraram a pulga atrás da orelha: o vídeo em que Laís mergulha em meio a pasta verde do rio tem mais de 20,1 milhões de visualizações.
“Começamos a criar conteúdos que respondem uma pergunta ao invés de contar algo sem ninguém ter questionado”, relatam os criadores. Vídeos narrativos atraem mais o público brasileiro, mas aqueles sem falas, que fazem parte de trends e que mostram paisagens bonitas, costumam atingir também estrangeiros.
Laís e Renan apontam que existe uma taxa de conversão de pessoas motivadas a fechar uma viagem após verem os conteúdos. “Já encontramos seguidores durante a viagem que falaram que estavam ali por nossa causa”, revelam.
Apesar de rodarem o mundo, o casal aposta em viagens de motorhome pelo Brasil, o que possibilita que conheçam locais não tão “hypados”. O que começou como um sonho em 2020 se tornou realidade: em fevereiro do ano passado, visitaram todos os estados brasileiros. No ano que vem, o objetivo é sair do Brasil pelo Chuí em direção ao Ushuaia e, depois, subir as Américas em direção ao Alasca.
“Ao mesmo tempo que influenciamos, também somos influenciados por lugares que vemos e que não sabíamos que existiam. É um ciclo benéfico para o turismo. Destinos que não estão aproveitando isso acabam perdendo”, conta Renan, que usa o exemplo de Nobres, no Mato Grosso. O destino gerou bastante conversa no perfil do casal, e, além de despertar curiosidade, é tido como mais acessível que outros locais semelhantes.