Polícia investiga caso de Pecuarista suspeito de queimar braço de menino indígena com ferro de marcar boi na Ilha do Bananal

Polícia investiga caso de Pecuarista suspeito de queimar braço de menino indígena com ferro de marcar boi na Ilha do Bananal
Publicado em 25/10/2024 às 12:25

A agressão aconteceu em um retiro perto da Aldeia Macaúba e os representantes do povo Karajá querem que homem deixe a região. Caso é investigado pela Polícia Civil e já está na Justiça por meio do MPE e defensorias.

 

Um menino indígena de apenas 6 anos, morador da aldeia Macaúba, na Ilha do Bananal, foi ferido no braço com um ferro de marcar boi. O suspeito de ferir o menino é um pecuarista que aluga terras na região, que após ser denunciado deverá deixar o local.

 

A aldeia fica na divisa do Tocantins com o Mato Grosso e a agressão foi em um retiro próximo ao local. De acordo com um documento feito pela família da criança e entregue à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o homem, que não teve o nome divulgado, estava irritado com a criança, agarrou-a pelo braço e a marcou com um marcador de gado, causando sérias lesões físicas e psicológicas.

 

O documento também pediu que o homem seja retirado imediatamente da Ilha do Bananal, e que seja investigado e responsabilizado pela agressão ao menino. O nome do pecuarista não foi divulgado.

 

Conforme o boletim de ocorrência, a criança brincava e corria nas proximidades onde pessoas lidavam com o gado. Nesse momento, o proprietário do retiro irritou-se com a brincadeira e a feriu, gerando queimadura grave no braço direito. Assustada, a criança correu para os braços da mãe.

 

Criança foi marcada a ferro quente na pele. Foto: Nucora DPE-TO/Divulgação

 

O Ministério Público Federal (MPF) permite que pecuaristas arrendem terras indígenas. Mas representantes do povo Karajá deram 30 dias para o agressor deixar a região. O Ministério Público Estadual (MPTO) e as Defensorias Públicas da União e do Tocantins também entraram com ação na justiça sobre o caso.

 

O caso foi registrado a princípio pela Polícia Civil do Mato Grosso, mas foi remetido na quarta-feira (23) para a 57ª Delegacia de Polícia de Pium, que dará continuidade às investigações.

 

A defensora pública Letícia Amorim esteve com a família da criança e o órgão também tomará medidas sobre o caso. “O relato foi bastante estarrecedor, triste e faz com que a gente procure mais informações acerca de tudo que está ocorrendo na ilha. Esse é um problema muito grande que certamente não afeta só a comunidade. A Ilha do Bananal é um território indígena e não tem razão de pessoas não indígenas estarem ali ocupando aquele espaço”, disse.

 

O coordenador da Funai Araguaia Tocantins informou que a instituição também tomou providências com relação à agressão ao menino indígena. “A Funai já encaminhou para a justiça. A gente está fazendo de tudo mesmo para atender e também a pessoa que fez isso responder no processo”, explicou o coordenador Bolivar Xerente.

 

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) também se manifestou sobre a agressão. “O Cimi pede que aos órgãos competentes, ao Ministério Público Federal, à 6ª Câmara que puna este agressor contra essa violência que os povos indígenas estão sofrendo na Ilha do Bananal”, afirmou Eliane Franco Martins, membro do conselho.

 

Em nota, o Ministério dos Povos Indígenas disse ser inadmissível que fatos como esse continuem acontecendo, o que torna mais triste e lamentável quando as vítimas são crianças. Também afirmou que segue trabalhando de forma firme e consistente para combater o racismo contra os povos indígenas. Por fim, a nota assinada pela ministra Sônia Guajajara disse que lamenta profundamente o corrido e se solidariza com a família.

 

A Secretaria de Estado dos Povos Originários e Tradicionais (Sepot) também se manifestou e informou que está dando todo o suporte necessário e acompanhando de perto o caso criminoso de violência infantil envolvendo a criança da aldeia Macaúba.

 

Menino de 6 anos teve o braço ferido — Foto: Divulgação

 

Veja nota da Sepot na íntegra:

 

A Secretaria de Estado dos Povos Originários e Tradicionais (Sepot) informa que está ciente da situação e que, em conjunto com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), a Defensoria Pública do Estado (DPE) e órgãos de Segurança Pública e da Saúde nas esferas estadual e federal, está dando todo o suporte necessário e acompanhando de perto este caso criminoso de violência infantil envolvendo uma criança da Aldeia Karajá Macaúba, na Ilha do Bananal.

 

A Sepot ressalta que repudia veementemente o ato e que buscará todos os esclarecimentos e a punição dos culpados. Por fim, a Pasta reitera seu compromisso em lutar pelos direitos dos povos indígenas e por seu bem-estar.

 

Veja nota da SSP:

 

A Secretaria da Segurança Pública do Tocantins reitera que o caso foi registrado primeiramente pela Polícia Civil do Mato Grosso que tomou todas as providências urgentes relacionadas ao fato.

 

Nesta quarta-feira, 23, o caso foi remetido para a 57ª Delegacia de Polícia de Pium que dará continuidade às investigações.

 

Por fim, por envolver uma criança, as tratativas da investigação deverão correr sob sigilo, conforme determina a lei.

 

Veja nota do MPF:

 

Atualmente o caso da criança marcada com ferro de gado está sendo apurado no âmbito da Justiça Estadual. Sobre a presença de pecuaristas na Ilha do Bananal o Ministério Público Federal esclarece que as associações indígenas celebram contratos de parcerias com criadores para o desenvolvimento projetos de bovinocultura, onde os criadores levam o gado para a Ilha e os benefícios são repartidos entre os retireiros e comunidades indígenas.

 

Veja o que diz a Defensoria Pública:

 

Em atendimento itinerante realizado pela Defensoria Pública do Estado do Tocantins (DPE-TO), no dia 18 de outubro, na Aldeia Macaúba, Ilha do Bananal, a coordenadora do Núcleo Especializado de Questões Étnicas e Combate ao Racismo (Nucora), defensora pública Letícia Cristina Amorim Saraiva dos Santos Moura, deparou-se com o caso de uma criança que foi marcada a ferro quente na pele. Frente à situação, urgentemente, foi apresentada Petição ao Juízo da segunda Vara da Comarca de Cristalândia.

 

Em relato feito à Defensora Pública, foi explicado que a criança estava brincando na localidade onde residia, perto da aldeia, quando um homem da região queimou a criança no braço com um ferro utilizado para marcar animais. A família da criança relatou estar com medo de retaliações por parte do acusado da agressão.

 

Com o objetivo de assegurar o direito básico de viver e se desenvolver sem violências psíquicas, psicológicas ou físicas, e para preservação de sua saúde mental e física da criança e de seus familiares, a Defensora Pública requer que seja feito um relatório psicossocial da criança e de sua família pelo Grupo Gestor das Equipes Multidisciplinares, além de uma escuta especializada junto à criança.

 

O atendimento foi realizado junto com a Defensoria Pública da União (DPU): “O acusado trabalha como encarregado de fazenda cuidando da criação de gado na ilha, são conhecidos no local como retireiros. Conversamos com a criança e choramos junto com a família. Ficamos consternados e muito apreensivos com a situação, que pode se configurar como tortura e uma forma de subjugação dos indígenas em relação aos não indígenas”, disse Letícia Amorim.

 

Atuação extrajudicial

 

Em reunião ocorrida na segunda-feira, 21, na sede da DPE-TO a defensora pública Letícia Amorim apresentou o caso ao secretário de Estado dos Povos Originários e Tradicionais, Paulo Waikarnãse Xerente.

 

O Nucora também oficiou a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Ministério Público Federal, Defensoria Pública da União, Secretaria de Estado dos Povos Originários e Tradicionais, Secretaria de Estado da Segurança Pública, Secretaria de Estado da Cidadania e Justiça e Ministério Público do Estado do Tocantins.

 

(Fonte: g1 Tocantins)


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