O que aponta a investigação sobre eventos e shows; empresas teriam estrutura incompatível para valores pagos
A Polícia Civil do Tocantins realizou, nesta quinta-feira, 17, uma operação em secretarias do governo estadual para investigar um suposto esquema de desvios de recursos públicos através de contratos com empresas de eventos. As investigações revelaram que empresas contratadas para organizar rodeios e eventos possuíam estruturas incompatíveis com os altos valores pagos, e que algumas delas utilizavam endereços falsos.
De acordo com a decisão judicial que autorizou a operação, a investigação apura crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa e delitos contra a administração pública. Empresas de eventos, associações e institutos sem fins lucrativos estão entre os principais alvos. Segundo a Polícia Civil, uma única associação teria recebido mais de R$ 5,1 milhões e repassado o montante a pessoas ligadas a três empresas investigadas.
A operação, que contou com apoio da Polícia Civil de Goiás, foi deflagrada em Palmas, Paraíso do Tocantins, Aparecida do Rio Negro e Goiânia (GO). Foram cumpridos mandados de busca e apreensão nas Secretarias de Estado da Cultura, do Turismo e do Esporte e Juventude, além de outros endereços. A Justiça determinou também o bloqueio de bens dos investigados, totalizando R$ 5.123.687,70.
Estrutura incompatível e rodeios suspeitos
As investigações apontam que o suposto esquema funcionava através de contratos de eventos de interesse público, como rodeios, que foram utilizados para desviar recursos. Em um dos casos, uma empresa com sede em Fátima, a 126 km de Palmas, foi identificada como tendo atividade principal no comércio de eletrodomésticos, mas era contratada para organizar eventos. Moradores da cidade afirmaram que o estabelecimento nunca existiu no endereço declarado.
Entre 2015 e 2018, outra empresa investigada firmou diversos contratos com o governo estadual, recebendo mais de R$ 12 milhões. A polícia afirma que os eventos realizados por essas empresas exigiriam uma estrutura técnica e operacional incompatível com as capacidades que elas possuíam.
A decisão judicial, assinada pelo juiz Márcio Soares da Cunha, da 3ª Vara Criminal de Palmas, destaca que foi possível identificar vínculos financeiros entre os envolvidos, indicando a existência de um esquema criminoso para desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro, utilizando entidades sem fins lucrativos. O magistrado proibiu as empresas envolvidas de firmarem novos contratos com o poder público e suspendeu os contratos atuais.
Rodeios simultâneos e endereços falsos
Outro ponto levantado pela investigação envolve a realização de 18 rodeios contratados por uma única associação entre 2016 e 2017. Mesmo em municípios com populações pequenas, os eventos mantinham estruturas padronizadas, como camarotes vips e tendas, semelhantes às de cidades maiores. Além disso, alguns rodeios aconteceram simultaneamente em cidades distantes umas das outras.
A polícia verificou que o endereço de uma das filiais da associação, localizado em Goiânia, era na verdade um escritório de contabilidade que nunca havia recebido atividades da entidade. O contador, que também é sócio de outra empresa suspeita, teria movimentado mais de R$ 5 milhões entre contas ligadas às empresas e pessoas físicas.
Defesa dos ex-governadores
A investigação se concentra em contratos realizados entre 2015 e 2019, período que abrange as gestões dos ex-governadores Mauro Carlesse e Marcelo Miranda, que se manifestaram sobre o caso.
A defesa de Carlesse afirmou que o ex-governador está tranquilo e espera que a investigação revele quem realmente se aproveitou dos recursos públicos para obter vantagens pessoais. Já Marcelo Miranda declarou que sua gestão sempre prezou pela transparência e se colocou à disposição para esclarecimentos.
Colaboração das secretarias
Em nota, a Secretaria Estadual da Comunicação informou que as secretarias envolvidas estão colaborando com as investigações e que vão cumprir imediatamente as determinações judiciais de suspensão de contratos e pagamentos com as empresas investigadas. A secretaria destacou que os contratos sob investigação foram firmados em gestões anteriores, entre 2015 e 2019.