Estudo identifica mudanças necessárias no uso da terra para o cultivo de soja no Matopiba

Estudo identifica mudanças necessárias no uso da terra para o cultivo de soja no Matopiba
Publicado em 21/11/2024 às 12:18

O Matopiba, região composta pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, vem se destacando como uma das principais fronteiras agrícolas do Brasil, com uma área de 73 milhões de hectares propícia ao cultivo de soja. No entanto, sua crescente expansão tem gerado preocupações ambientais, principalmente em relação à transformação de áreas de vegetação nativa em terras agricultáveis. A Fundação Solidaridad, em parceria com a consultoria Agroicone, conduziu um estudo econômico que visa apontar alternativas para a expansão sustentável do cultivo de soja na região, buscando equilibrar rentabilidade e preservação ambiental.

A pesquisa, que mapeou durante duas safras as principais áreas produtoras da região, teve como objetivo identificar práticas e modelos de negócios que viabilizem a expansão do cultivo sem avançar sobre as áreas de vegetação nativa. De acordo com Paula Freitas, Gerente de Cadeias Produtivas da Fundação Solidaridad, o estudo foi essencial para compreender a dinâmica atual da soja no Matopiba, especialmente no Tocantins e na Bahia. Ela destaca que o foco do estudo foi apresentar alternativas que permitam aos produtores aumentar a produtividade sem causar danos ambientais.

Expansão da Soja e Mecanismos de Sustentabilidade

Durante o estudo, foram avaliados diferentes cenários econômicos e mecanismos financeiros para impulsionar a adoção de práticas sustentáveis. Camila Santos, Coordenadora do Programa Soja da Fundação Solidaridad, enfatiza que não existe uma solução única para promover a expansão sustentável, mas sim uma combinação de ações do setor produtivo e do governo. A especialista sugere que a indústria precisa se comprometer a reduzir o desmatamento e as emissões de carbono, incentivando práticas como o Sistema de Plantio Direto (SPD) e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), além de fortalecer a utilização de instrumentos financeiros como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e créditos de carbono.

Além disso, Paula Freitas sublinha a importância de implementar o Código Florestal para garantir a preservação da vegetação nativa e reduzir a incerteza jurídica que prejudica os produtores. A infraestrutura de armazenamento e logística também é vista como um fator crítico para a expansão da soja em áreas de pastagens, sendo fundamental pensar em soluções que favoreçam a conservação a longo prazo.

Análise de Mecanismos Financeiros

O estudo foi dividido em quatro etapas para melhor compreender a viabilidade econômica de modelos sustentáveis. A primeira fase focou nos mecanismos financeiros para a expansão da soja e a implementação de práticas agrícolas de baixo carbono no Tocantins e na Bahia. A pesquisa revelou que, entre os anos-safra de 2019 a 2023, o crédito rural contratado pelos produtores cresceu 88%, alcançando R$ 357 bilhões. Camila Santos observa que essa expansão do crédito rural oferece uma oportunidade para as instituições financeiras financiarem práticas mais sustentáveis, direcionando recursos para áreas de pastagens degradadas e evitando a conversão de áreas nativas.

A segunda etapa do estudo investigou os custos de oportunidade envolvidos na adoção de práticas de baixo carbono e comparou os cenários nas regiões de expansão da soja. A pesquisa mostrou que os modelos de expansão baseados em áreas já abertas, como as pastagens degradadas, são mais viáveis economicamente, ao contrário das práticas que avançam sobre a vegetação nativa.

A Conversão de Pastagens e Políticas Públicas

A terceira fase do estudo analisou as barreiras e oportunidades na conversão de pastagens degradadas para a agricultura, propondo ajustes nas políticas de crédito rural e sugerindo a implementação de novas formas de incentivo, como a redução de taxas de juros e o aumento do prazo de carência. Essas medidas visam tornar a expansão da soja em áreas já abertas mais atraente para os produtores.

Na quarta etapa, foram estruturados cenários para a expansão da soja em áreas abertas, seja para a agricultura ou pecuária, com o objetivo de torná-los financeiramente competitivos em relação à expansão sobre a vegetação nativa. A análise revelou que, com a adoção de práticas sustentáveis, é possível conciliar o aumento da produção com a preservação ambiental, respeitando os limites ecológicos da região.

Continuidade dos Estudos no Matopiba

Este estudo é parte de uma série de pesquisas realizadas pela Fundação Solidaridad na região. Em 2021, a fundação divulgou um estudo focado na dinâmica territorial da soja no Matopiba, identificando áreas com alto potencial para expansão sem prejudicar a vegetação nativa. Em 2022, outro estudo foi lançado, abordando o balanço de carbono na produção de soja na região, destacando as oportunidades para os produtores que adotam práticas de baixo carbono.

A combinação de práticas agrícolas sustentáveis, inovação tecnológica e políticas públicas eficazes será essencial para garantir que o Matopiba continue a ser uma fronteira agrícola produtiva, sem comprometer a integridade ambiental da região.

Por Portal do Agronegócio.

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