Canjica ou curau? Veja por que os pratos juninos têm nomes diferentes pelo país

Canjica ou curau? Veja por que os pratos juninos têm nomes diferentes pelo país
Publicado em 10/07/2024 às 05:59

As festa juninas e julinas são um acontecimento de sul a norte do Brasil, mas isso não quer dizer que as mesmas comidas têm nomes iguais — e nem que levam os mesmíssimos ingredientes.

Um exemplo é que o doce curau, como é conhecido em São Paulo, é conhecido como canjica em Pernambuco; e a canjica de São Paulo é o munguzá-doce de Pernambuco.

A CNN conversou com Fabiane Altino, professora Associada do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas da Universidade Estadual de Londrina (UEL), para entender o que faz com que as mesmas comidas recebam um nome em cada região do Brasil.

De acordo com Altino, as palavras refletem “de maneira muito particular” a história de quem as usam. “Quando analisamos o vocabulário regional, por exemplo, estamos fazendo também uma retomada dos fatos que colaboraram para a formação daquele povo: migração, cultura, sua maneira de ver e representar o mundo e suas ligações”, explica.

Os nomes de pratos típicos surgiram a partir da influência de outras línguas. O termo curau, ainda segundo a professora, intriga pesquisadores. Afinal, a origem da palavra não foi encontrada, mas trata do doce feito com milho-verde ralado e leite, podendo ser com ou sem coco. “Este termo curau é registrado mais comumente nas Regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul”, explica.

A palavra canjica, no entanto, é originada do quimbundo, uma língua falada em Angola. Dessa forma, o uso deste termo reflete a influência maior do continente africano nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil.

“Canjica, do quimbundo Kanjika e referente ao mesmo doce, tem maior produtividade nas Regiões Norte e Nordeste”, completa.

As palavras refletem a história social da região, segundo Altino. “Quando usamos a língua, usamos também o que conhecemos do mundo, nossas escolhas, nossa cultura e, tudo isso, reflete um pouco do que somos”, finaliza.

As diferenças nos nomes alteram os pratos?

A chef Carmem Virginia, do restaurante Altar Cozinha Ancestral, que foi declarado Patrimônio Cultural e Gastronômico do Recife, afirma que, no geral, não há diferença na preparação dos pratos — mesmo tendo nomes distintos. 

Mesmo assim, ela garantiu que a maior diferença é que a canjica sempre é feita com milho branco. “A canjica, que para nós nordestinos é munguzá, no Sul e no Sudeste tem uma tradição de ser feita mais com milho branco, mas, para nós, é feito com milho amarelo”, explica.

A chef Irina Cordeiro, ex-participante do MasterChef Profissionais e responsável pelo restaurante Cuscuz da Irina, também lembra que o munguzá costuma ser doce no Sul e Sudeste, mas é um prato salgado em algumas regiões do Nordeste. “Principalmente nas áreas interioranas e no sertão, ele é feito salgado. É como fazemos uma feijoada: colocamos vários pedaços de porco, carne seca, e a gente come ele em um prato salgado”, diz.

Ela também afirma que a preparação do munguzá (ou canjica), em regiões do Nordeste, segue a tradição da festa junina portuguesa. “Nosso munguzá, que o Sudeste chama de canjica, é feito com muitos miúdos, como os portugueses costumavam comer”, finaliza.

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