Atrai multidões: a fórmula de sucesso de bares, cafeterias e restaurantes temáticos
Ao empreender pela primeira vez, a carioca Giovanna Molinaro uniu duas paixões aparentemente inconciliáveis. Uma delas é a que nutre pelos gatos, especialmente os três que moram com ela, Malala, King e Fúria, todos resgatados da rua e de raça indefinida — Calvin, o quarto adotado, já faleceu. A segunda paixão de Giovanna, arquiteta de formação, é pelo universo das cafeterias.
O resultado desses dois interesses? A rede Gato Café, cuja matriz, em Botafogo, funciona desde 2020. A primeira filial, na Barra da Tijuca, abriu no ano seguinte. E a franquia de número um, em Cachambi, na Zona Norte carioca, foi inaugurada neste ano. O faturamento previsto para 2025, quando duas novas franquias deverão sair do forno, na mesma cidade, é de R$ 3 milhões.
Giovanna teve a ideia depois de conhecer uma cafeteria parecida no Japão, que visitou em 2018. No negócio que lhe serviu de inspiração, gatos de raça circulam livremente pelo espaço em busca de afagos. “A Gato Café é bem diferente porque tem o propósito de ajudar gatos abandonados a encontrarem novos lares”, explica a fundadora, que largou a arquitetura para tirar a cafeteria do papel.
Outra missão do negócio, acrescenta a empreendedora, é ajudar a minimizar certo estigma que cerca os felinos. “Diferentemente dos cachorros, eles não são vistos em tudo quanto é lado, o que faz com que menos pessoas tenham interesse em acolhê-los”, Giovanna acredita. “Aproximando os gatos do grande público, aumentamos as oportunidades de adoção”.
Funciona assim: toda unidade da rede é dividida em duas partes. Os bichanos ficam restritos a uma delas, e podem ser visitados mediante o pagamento de uma taxa simbólica, de R$ 10 por 15 minutos. O dinheiro arrecadado ajuda a equilibrar os gastos com o lado filantrópico do Gato Café. Desde a inauguração, a rede já intermediou mais de 600 adoções — ela se aliou a ONGs especializadas no recolhimento de felinos que não têm um lar para chamar de seu.
Todo o faturamento do Gato Café vem da cafeteria propriamente dita, que presta tributo aos bichanos de todas as formas possíveis. Há desde quiche com desenho de gato até uma linha de xícaras e copos em homenagem aos felinos. Em breve, Giovanna pretende dar início à expansão em outros estados. O investimento inicial em uma franquia custa a partir de R$ 205 mil.
“O marketing de nicho costuma ser muito efetivo, o que faz com que o potencial das cafeterias, dos bares e dos restaurantes temáticos seja muito alto”, observa Fernando Blower, presidente do SindRio, o Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro. “Para esse tipo de negócio dar certo, no entanto, bater o martelo em um tema que atrai público com recorrência é fundamental. Se você apostar em uma moda passageira, talvez seja obrigado a adotar um novo tema daqui dois anos, por falta de público, e a transformar o estabelecimento de cima a baixo, o que demandará novos investimentos”.
O nome da Circus Trattoria, inaugurada em 2023, já indica a temática adotada. No BarraShopping, no Rio de Janeiro, o restaurante italiano deve sua fama às apresentações artísticas de palhaços, mágicos e malabaristas e ao cardápio inusitado. As pizzas são servidas debaixo de uma “mini-lona” de circo e algumas das massas, sem corantes artificiais, exibem as cores do arco-íris. Um dos raviolis coloridos, por exemplo, tem formato de bala. É recheado com camarão e servido com molho filadélfia.
Os irmãos Marcus Vinícius Temperani e Marcius Temperani apostaram na mesma temática com o Circo da Pizza, inaugurado em setembro. “Esperava uma clientela 20% menor, e olhe que sempre enxerguei o negócio com muito otimismo”, admite o primeiro, ao comentar os quase 8 mil frequentadores mensais.
Na Vila Guilherme, em São Paulo, a poucos metros da Marginal Tietê, a novidade ocupa um galpão de uns 800 metros quadrados. O endereço já estava nas mãos dos Temperani, que antes mantinham uma loja de móveis no local. Transformado no Circo da Pizza depois de uma reforma não muito complexa, o galpão ganhou uma réplica de um globo da morte e outros itens decorativos que remetem ao universo circense.
“Para um restaurante temático dar certo, não dá para ser um tema do momento ou restrito só a determinado público, como algum super herói”, Marcus acredita. “Todo mundo gosta de circo e se trata de algo atemporal”.
Os irmãos têm familiaridade, literalmente, com esse universo. Leopoldo Temperani, o trisavô deles, é tido como o primeiro homem-bala do Brasil. Nascido na Itália em 1848, ele se estabeleceu por aqui em 1875 e montou o Circo Temperani. Depois rebatizado de Irmãos Temperani, o negócio ficou nas mãos da família até os anos 1980.
Nesta época, era comandado por outro Leopoldo e por um irmão deste, Osmar. Netos do primeiro homem-bala do país, eles se arriscavam, em conjunto, no globo da morte do circo. Depois, a dupla fundou a lanchonete Dizzy, que começou na Vila Maria, e os restaurantes O Compadre e O Caipira, ambos na Zona Norte. Marcus e Marcius são filhos deste Osmar e hoje comandam a Dizzy, O Compadre e o japonês Nōsu, além da nova pizzaria.
O “ingresso” para o Circo da Pizza custa R$ 99,90 para adultos e crianças com 11 anos ou mais. Inclui pizzas salgadas, hot dog, nuggets, pipoca e batata frita à vontade. Para crianças entre 4 a 10 anos o preço baixa para R$ 89,90 e para aquelas com 3 anos ou menos a entrada é gratuita. No início, esses valores incluíam refrigerante à vontade. “Isso estava incentivando o desperdício”, diz Marcus, justificando o fim dessa regalia.
Dada a imensa procura nos finais de semana, o restaurante limitou as reservas às segundas, terças, quartas e quintas. Também impôs um tempo limite de permanência, de 2h30. “Se não tiver fila, não há problema em passar desse tempo”, Marcus informa. “Resolvemos limitar a permanência porque a decepção das crianças que ficam esperando e acabam não conseguindo entrar é muito grande”.
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