Gerente vendeu mais de 50 veículos apreendidos e fez denúncias falsas para justificar sumiços, diz polícia
Veículos apreendidos pela polícia estavam sendo retirados ilegalmente do pátio de empresa. Três suspeitos foram presos em Araguaína nesta sexta-feira (27), durante Operação El Lobo da Polícia Civil.
Motos foram recuperadas pela polícia durante operação — Foto: Alta tensão/Divulgação
Pelo menos 55 veículos foram extraviados e vendidos pela organização criminosa que atuava dentro do pátio da empresa responsável por armazenar os automóveis apreendidos pela polícia, em Araguaína. A Polícia Civil prendeu três suspeitos de envolvimento no esquema nesta sexta-feira (27). O principal investigado da operação é o gerente comercial da empresa Sancar.
“Conseguimos individualizar pelo menos 55 veículos subtraídos, mas isso não quer dizer que são só esses. Acreditamos que seja muito mais que isso. Os 55 foram só em relação ao gerente que teve o celular apreendido, que pode elucidar outros pontos da investigação”, afirma o delegado Fellipe Crivelaro, da Delegacia Especializada de Repressão a Roubos (DRR – Araguaína).
As investigações apontaram que o gerente teria registrado diversos boletins de ocorrência falsos na delegacia, dizendo que os veículos teriam sido furtados do pátio. O nome dele não foi divulgado e o g1 não conseguiu contato com a defesa.
A empresa afirma ter solicitado o auxílio da Polícia Civil após se deparar com situações de veículos que não foram localizados no interior do pátio, durante o levantamento e balanço interno. Também afirmou que é a principal vítima e a maior interessada no desfecho da operação (veja nota completa abaixo).
Operação cumpriu mandados no pátio de operação — Foto: Claudemir Macedo/TV Anhanguera
Além das três prisões preventivas, 12 ordens de busca e apreensão e cinco medidas cautelares diversas da prisão foram cumpridas na Operação El Lobo. Um dos alvos acabou sendo preso em flagrante por posse irregular de arma de fogo.
Um dos casos informados pela polícia foi de uma técnica de enfermagem que foi atropelada por um caminhão. Após a morte dela, a motocicleta foi apreendida pela polícia e levada para o pátio da empresa, mas funcionários teriam vendido o veículo para um morador de São Geraldo (PA).
Como funcionava o esquema
Conforme o delegado Crivelaro, o extravio de motocicletas do pátio acontecia tempos depois do veículo ser apreendido por alguma infração. A organização criminosa vendia esses veículos, em sua maioria para compradores do estado do Pará. Cada motocicleta era revendida em média por R$ 3 mil.
Caso o veículo recebesse alguma multa por infração de trânsito e o proprietário original pedisse explicação à Sancar, o gerente investigado procurava uma delegacia e registrava um boletim de ocorrência por furto, dizendo que o veículo foi furtado de dentro do pátio.
Segundo a polícia, foi apurado que o gerente registrou falsamente pelo menos 20 boletins de ocorrência. Além de responder pelo crime de comunicação falsa de crime, ele também responderá por peculato, assim como os demais envolvidos.
“Esses extravios configuram como crime de peculato, tendo em vista que por envolver um funcionário dessa empresa, ele é considerado funcionário público para fins penais. Ele responderá por peculato e todos aqueles que sabiam dessa condição dele também respondem e, nesse caso, todos que fazem parte dessa organização criminosa sabiam dessa condição de funcionário público”, explicou.
Propina para liberação de veículos
Também foram descobertos três crimes de corrupção passiva, envolvendo outro alvo da operação. O suspeito agia em nome de uma organização que tinha ligação direta com o gerente.
De acordo com a investigação, algumas pessoas que tiveram veículos apreendidos procuraram este suspeito para retirar o veículo do pátio, pagando propina para a liberação.
Polícia Civil cumpre mandados de prisão em Araguaína — Foto: Divulgação
A propina custava em média R$ 4 mil, valor abaixo do que seria o somatório dos débitos a serem pagos por infrações administrativas, diárias do pátio, guincho e demais despesas. Segundo a polícia, o veículo era entregue ao proprietário de forma irregular, sem dar baixa.
Além dos crimes de peculato, corrupção passiva, os envolvidos também responderão pelo crime de organização criminosa. “Todos estão sendo autuados por crime de organização criminosa porque foi apurado uma estrutura organizada com divisão de tarefas”, conclui.
Os alvos presos foram levados para a delegacia e após serem ouvidos serão encaminhados para a Unidade Penal de Araguaína.
Íntegra da nota da Sancar
SANCAR GESTÃO EMPRESARIAL E LOGÍSTICA DE VEÍCULOS LTDA, empresa concessionária dos serviços de guarda e remoção de veículos retidos por medidas administrativas de trânsito no estado do Tocantins, vem a público prestar esclarecimentos sobre a operação “El Lobo”, deflagrada pela Polícia Civil de Araguaína, na forma em que segue:
A empresa Sancar passou a ter conhecimento de que estava sendo vítima da subtração de veículos que estavam sob sua guarda, se deparando com situações onde veículos que deveriam estar retidos no pátio eram abordados novamente pelas autoridades de trânsito, circulando nas ruas sem que tivessem regularizado suas pendências, nem tampouco realizado o procedimento de liberação junto a empresa. Da mesma forma, também nos deparamos com situações de veículos que não foram localizados no interior do pátio ao fazermos o levantamento e balanço interno.
Diante desses fatos a empresa Sancar solicitou o auxílio da Polícia Civil, fornecendo informações essenciais para a investigação, com o intuito de que se possa desvendar o modo com que essas subtrações estariam acontecendo, levando ainda em consideração a possibilidade de envolvimento de pessoas do nosso quadro de funcionário ou prestadores de serviço.
As poucas informações que temos até o momento nos traz surpresa pela gravidade do esquema que supostamente foi implantado dentro da empresa, como também nos traz o alívio e a certeza que os desdobramentos desta operação colocarão fim as condutas criminosas que acarretam danos materiais e abala a imagem da empresa Sancar.
Importante frisar que a empresa Sancar é a principal VÍTIMA e a maior interessada no desfecho desta operação, colaborando ativamente com as autoridades competentes, contribuindo para o desenvolvimento da operação que visa combater atos ilícitos que afetam a segurança e o bem-estar da sociedade. Reafirmamos nosso compromisso com a justiça, a legalidade e a transparência, mantendo nossas operações pautadas no cumprimento da lei e na preservação da ordem pública.
Agradecemos às autoridades envolvidas pela rápida resposta e seguimos à disposição para colaborar com as investigações e garantir a segurança de todos.
(Fonte: g1 Tocantins)