Assassinato de fisioterapeuta: as revelações do inquérito
Médica que é ex-mulher do homem baleado, o pai dela e três militares estão entre os alvos da ação policial que cumpriu mandados de prisão em Palmas. Vítima ficou várias semanas internada após os tiros.
Os investigadores do caso traçaram parte do percurso realizado pelo carro utilizado pelos militares suspeitos antes e depois da tentativa de homicídio contra o fisioterapeuta Huxley Luiz Majadas de Lima. A Polícia Civil suspeita que o mesmo carro circulava perto do local onde os policiais militares estavam alocados.
No dia 16 de abril de 2020, Huxley Luiz foi atingido por seis tiros ao deixar o trabalho com uma colega para comprar sorvete, no Jardim Aureny III. A Polícia Civil aponta a ex-esposa dele, a médica Melissa Isabelle Alves de Lima, de 44 anos, como suposta mandante do crime. Assim, a autoridade executou ordens de busca e apreensão contra ela e outros suspeitos na manhã de quinta-feira (12).
O inquérito mostra todo o percurso provável feito pelo veículo branco, que seria de propriedade do policial militar Ary Neres de Morais, de 39 anos. Além dele, também são citados no inquérito os militares Jack Andreson Almeida Leite, de 40 anos, e Danillo Carvalho Solino de França, de 30 anos. O pai de Melissa, Sebastião Alves de Lima Filho, de 78 anos, também estava entre os alvos da operação.
O carro branco foi filmado em alta velocidade logo após o fisioterapeuta ser atingido pelos tiros que o deixaram internado por mais de 15 dias. A câmera de um estabelecimento comercial a 300 metros do local conseguiu filmar, inclusive, que havia um amassado no para-lama dianteiro direito, o que foi possível identificá-lo com mais precisão em outros pontos da cidade.
Veículo usado por suspeitos na tentativa de homicídio de fisioterapeuta — Foto: Divulgação/Polícia Civil
A polícia ainda apurou que havia outra pessoa no banco do carona ao lado do motorista e que o veículo está utilizando uma placa vermelha, possivelmente falsa, para impossibilitar a identificação.
Na análise das imagens foi possível ver o veículo passando pela TO-050, da região central de Palmas, transitando pela Avenida Tocantins (Av. I) e fugindo pela Rua 48, virando na Rua 33 e seguindo pela Rua 43, ambas na região sul da capital.
Para comprovar que o veículo era do militar investigado, o mesmo carro branco, com um amassado na lateral dianteira, foi visto poucos minutos após o crime na Avenida LO 07, altura da ARSE 33 (quadra 308 Sul), seguindo em direção ao Batalhão de Choque, onde Ary era lotado.
Em 2020, a Polícia Civil representou por um mandado de busca no veículo, mas ele não foi encontrado. Com placa do estado de São Paulo, o investigado relatou para a Autoridade Policial que havia se desfeito do veículo cerca de um mês antes do cumprimento do mandado, vendendo peças e partes do veículo para várias pessoas.
“Esta conduta do investigado dando destinação desconhecida ao veículo objeto da busca sugere que ele soube do mandado de busca e apreensão antes do seu cumprimento, motivo pelo qual se desfez do veículo, com objetivo de desaparecer com a prova que o ligaria à autoria do crime”, diz trecho do inquérito.
Entretanto, a Polícia Civil conseguiu cruzar informações com o sistema Córtex do Ministério da Justiça e descobriu que o veículo, em 2022, estava em circulação, mas no estado de São Paulo. “O que fortalece os indícios de que o investigado tenha se desfeito do veículo, repassando para terceiros com o objetivo de obstruir as investigações”, segundo a Polícia Civil.
Câmera de segurança registrou fisioterapeuta correndo após ser baleado — Foto: Reprodução
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) disse que a médica segue trabalhando no HGP, e que não foi notificada da ação e aguarda a manifestação dos órgãos competentes para tomar as medidas cabíveis (veja íntegra ao final da reportagem).
O advogado Kaique Fraz, que representa a médica Melissa e o pai dela, disse que não teve acesso ao teor das investigações e está esclarecendo às alegações junto com os clientes. Disse ainda que os autos estão resguardados pelo sigilo judicial, e por isso não poderia dar mais detalhes sobre o caso.
O advogado Paulo Roberto, que se identificou como advogado dos policiais militares, disse, por telefone, que não tomou conhecimento das acusações e deve se pronunciar assim que obtiver acesso ao inquérito e aos detalhes da investigação.
A Polícia Militar informou que tomou conhecimento da investigação e ressaltou que vai colaborar com as apurações no âmbito da polícia judiciária. A corregedoria da instituição abrirá procedimentos administrativos para apuração dos fatos (veja íntegra ao final da reportagem).
Rota usada para ir até o local da tentativa de assassinato e da fuga — Foto: Divulgação/Polícia Civil
Buscas e apreensões
Nesta quinta-feira, foram cumpridos mandados de busca e apreensão contra os alvos. O inquérito segue em andamento, pois ainda há questões a serem esclarecidas. “O material recolhido será analisado, a fim de aferir a real participação de cada envolvido, e juntado aos autos. O inquérito policial deverá ser concluído nos próximos dias, com autoria definida e respectivos indiciamentos”, informou a Secretaria de Segurança Pública (SSP).
A médica tinha uma relação conturbada com o ex-marido, de quem se divorciou em 2019, segundo a polícia. Após a separação, Melissa passou supostamente a ter um comportamento agressivo e a perseguir a vítima. Segundo a polícia, ela fez várias denúncias caluniando o ex. Havia, inclusive, medidas judiciais que proibiam a aproximação entre eles.
Médica e policiais militares são suspeitos de tentar matar fisioterapeuta em Palmas — Foto: Ana Paula Rehbein/TV Anhanguera
Relembre o crime
O fisioterapeuta trabalhava no Centro de Referência em Fisioterapia da Região Sul de Palmas (Crefisul), tendo sido baleado durante o intervalo de trabalho. Testemunhas informaram para a Polícia Militar que os disparos foram feitos por dois homens em um carro modelo Gol de cor branca.
Testemunhas também afirmaram ter visto homens em um carro branco fazendo uma espécie de campana, do outro lado da rua do trabalho da vítima, e que não houve tentativa de assalto.
O homem foi atingido por seis dos nove tiros disparados contra ele, mas conseguiu caminhar, voltar para o trabalho e pedir socorro. Ele foi levado para a Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Geral de Palmas (HGP) e sobreviveu.
O fisioterapeuta ficou internado no HGP por duas semanas e precisou ser hospitalizado novamente uma semana depois, por complicações médicas. Por medo de atentarem novamente contra a sua vida, ele mudou de estado para dar continuidade ao tratamento.
Íntegra da nota da Polícia Militar
A Polícia Militar do Tocantins informa que tomou conhecimento sobre os mandados de busca e apreensão realizados pela Polícia Civil nos endereços de três policiais militares. Por se tratar, em tese, de fatos que não têm correlação com atividade policial militar, as investigações são de competência da Polícia Civil.
Ressaltamos que a Polícia Militar irá colaborar com as apurações no âmbito da polícia judiciária e a corregedoria da instituição abrirá procedimentos administrativos para apuração dos fatos.
A Polícia Militar repudia veementemente qualquer conduta que contrarie os princípios da legalidade, da ética e da moralidade e reafirma o compromisso com a apuração rigorosa conforme a lei.
Íntegra da nota da Secretaria de Estado da Saúde
A Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) informa que não foi notificada da ação e aguarda a manifestação dos órgãos competentes para tomar as medidas cabíveis.
A SES-TO destaca que, enquanto isso, a médica, que é servidora efetiva da Pasta, segue trabalhando no Hospital Geral de Palmas (HGP), onde não há reclamações sobre sua conduta profissional.
(Fonte: g1 Tocantins)