7 perguntas para Fernando Seixas, o guardião do vinho do Porto

7 perguntas para Fernando Seixas, o guardião do vinho do Porto
Publicado em 18/12/2024 às 10:50

Uma garrafa de vinho do Porto na minha adega é como uma joia supervaliosa guardada no cofre. Enquanto não abro, fico – sempre – com aquela preocupação de se está tudo bem. Será que está na temperatura adequada? Não entrou nenhuma fresta de luz? Está na posição correta?

Para evitar a dor de cabeça, “volta e meia” dou uma olhada e fico aliviado, pelo menos por alguns dias. Repito o ato com uma certa frequência, pois um bom Porto merece rigor, afinal, estamos diante de um símbolo que atravessa os séculos e é o principal brinde dos momentos de comemorações.

Vale lembrar que o Vinho do Porto é um vinho fortificado, produzido dentro da região vitivinícola do Douro, em Portugal. Existem vinhos fortificados produzidos em outras regiões, mas daí não podem ser chamados de Vinho do Porto.


Taylors
Fernando Seixas, diretor comercial de exportação da Taylor’s para a Europa, África e América Latina • Divulgação

É uma grande alegria quando encontro vinícolas e pessoas que se confundem com a história do vinho do Porto, como é o caso do “guardião” da bebida, Fernando Seixas, diretor comercial de exportação da Taylor’s para a Europa, África e América Latina.

A vinícola é, praticamente, sinônimo de vinho do Porto. Fundada em 1692, consagra-se como uma das mais antigas casas de comércio da bebida fortificada e foi a criadora do Port LBV (late bottled vintage).

Fernando Seixas esteve no Brasil no início de novembro para conduzir um almoço promovido pela importadora Qualimpor, que é a detentora exclusiva da Taylor’s no Brasil, para apresentar uma nova linha de vinhos tranquilos da casa, a Principal.

Nesta oportunidade, aproveitei para tentar desvendar quais são os “segredos” que fazem a Taylor’s ser a paixão dos amantes do vinho do Porto.

  • Fernando, qual é o segredo para fazer um dos melhores vinhos fortificados do mundo e permanecer no topo por anos e anos?

Paixão, muita dedicação e a valorização do conhecimento que foi passado de geração em geração pela família Taylor’s. Além disso, também precisamos estar atentos à inovação e, claro, ser privilegiados por ter uma das melhores regiões demarcadas no mundo para a produção de uvas para o vinho do Porto.

  • Com a entrada dos consumidores jovens no mundo do vinho, qual foi a adaptação necessária para poder atingir este novo público com a bebida fortificada?

É essencial nos mantermos fiéis à nossa essência, bem como é essencial nos mantermos relevantes à evolução do mercado e por isso a temos sabido inovar sem comprometer a nossa essência. O Vinho do Porto é talvez dos vinhos que mais têm se inovado nas últimas décadas.

  • Com a mudança no perfil dos consumidores, ainda há espaço para a venda de Portos que possuem 20, 30 ou 50 anos de envelhecimento ou os compradores estão muito imediatistas?

Bom, eu diria que há cada vez mais espaço para Porto envelhecido. Isso é comprovado pelas nossas vendas de rótulos muito velhos. Aliás, fomos nós que provocamos a criação da categoria dos 50 anos e do VVOP (very, very old port) que é quando a bebida tem mais de 80 anos.

  • Qual é o papel da tecnologia nesta produção toda?

É absolutamente essencial, a todos os níveis, mas apenas deve ser usada naquilo que tem de ser mudado, pois há muito que é bem feito e que não necessita ser alterado. Nós, estamos em uma região com séculos de história e de conhecimento empírico afinado ao longo dos séculos. Por isso, detemos um conhecimento que em muitos aspetos não deve ser alterado.

  • As mudanças climáticas estão trocando características de alguns terroirs mundo afora. Como vocês veem isso com seus vinhedos no Douro? É possível conservar a singularidade da produção da Taylor’s?

No Douro, temos, talvez, a região mais preparada para as mudanças climáticas, uma vez que o nosso terroir é muito quente e muito seco. Como nós não irrigamos os nossos vinhedos, eles desenvolvem um impressionante sistema radicular, além de que as castas autóctones do Douro se adaptarem ao longo dos séculos a estas difíceis condições. Por isso, podemos dizer que, sim, a Taylor’s está em muito boas condições de conservar a singularidade da produção.

O que as mudanças climáticas trouxeram foi uma grande imprevisibilidade e um maior número de fenómenos extremos.

  • O vinho do Porto é um vinho histórico, possui tradição de séculos e é ligado – muitas vezes – à comemorações. Como você acredita que os consumidores podem respeitar esse legado que atravessa anos na produção de vinhos?

O melhor que cabe aos consumidores é abrir uma garrafa de vinho do Porto (de qualidade), fazer isso frequentemente, e deixar que o vinho do Porto o maravilhe com a sua qualidade, história e tradição.

  • Qual foi o melhor Porto bebido por você e quais as harmonizações que você indica?

Os melhores vinhos do Porto que eu bebi são: Taylors Scion 1955, Vintage Taylor’s 1963 e Vintage Taylor’s 2011. A harmonização é algo bastante pessoal, mas é indispensável que seja com sobremesas e queijos, como: torta de maçã, torta de amêndoas, fondant de chocolate e foie-gras.

*Os textos publicados pelos Insiders e Colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do CNN Viagem & Gastronomia

Sobre Stêvão Limana


O jornalista Stêvão Limana com taça de vinho na mão
O jornalista Stêvão Limana com taça de vinho na mão

Stêvão Limana é jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pós-graduado em enologia, postulante a sommelier profissional e maratonista nas horas vagas. Na TV, fala sobre política e eleições, enquanto na internet foca em vinhos e gastronomia.

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