Como agir em caso de acidente aéreo? Especialistas dão dicas

Como agir em caso de acidente aéreo? Especialistas dão dicas
Publicado em 06/01/2025 às 12:13

Ao olhar as fotos dos dois trágicos acidentes aéreos das últimas semanas, no meio do horror e da angústia, uma ideia pode vir à mente dos passageiros frequentes: a de que sentar na parte traseira do avião é mais seguro do que na frente — e os destroços do voo 8243, da Azerbaijan Airlines, e do voo 2216, da Jeju Air, parecem confirmar isso.

Os 29 sobreviventes do acidente da Azerbaijão estavam todos na parte de trás do avião, que se partiu em dois, deixando a metade traseira praticamente intacta. Já os únicos sobreviventes do acidente da Jeju Air foram as duas comissárias de bordo, que estavam em seus assentos no final do avião.

Mas, afinal, será que essa antiga crença — e as piadas sarcásticas sobre os assentos da classe executiva e primeira classe, que são ótimos até o avião ter um problema — está correta?

Em 2015, jornalistas da revista Time examinaram os registros de todos os acidentes aéreos nos Estados Unidos com vítimas fatais e sobreviventes entre 1985 e 2000. Na análise, descobriram que os assentos na parte de trás do avião tinham uma taxa de fatalidade de 32%, comparada com 38% na parte da frente e 39% no meio.

Ainda melhor, descobriram que os assentos do meio, na parte de traseira do avião, tinham uma taxa de fatalidade de 28%. Os assentos com maior taxa de fatalidade eram os dos corredores no meio do avião, com 44%.


Jeju Air em 29 de dezembro
Somente duas pessoas sobreviveram ao trágico acidente do voo 2216 da Jeju Air em 29 de dezembro. Ambas eram da tripulação e estavam sentadas na cauda do avião • Chris Jung/NurPhoto via Getty Images

Como está a segurança aérea atual?

De acordo com especialistas em segurança aérea, essa teoria é apenas um mito.

“Não há dados que mostrem uma correlação entre o assento e as chances de sobrevivência”, diz Hassan Shahidi, presidente da Flight Safety Foundation. “Cada acidente é diferente.”

“Se estamos falando de um acidente fatal, então não há quase nenhuma diferença de onde a pessoa esteja sentada,” afirma Cheng-Lung Wu, professor associado da Escola de Aviação da Universidade de New South Wales, em Sydney.

Ed Galea, professor de engenharia de segurança contra incêndios na Universidade de Greenwich, em Londres, que realizou estudos importantes sobre evacuações em acidentes aéreos, alerta: “Não existe um assento magicamente mais seguro.”

“Depende do tipo de acidente. Às vezes, é melhor na frente, às vezes atrás.”

No entanto, Galea e outros especialistas afirmam que há uma diferença entre o assento que tem a melhor chance de sobreviver ao impacto inicial e aquele que permite evacuar o avião rapidamente. Eles acreditam que devemos focar no assento que favorece uma evacuação rápida.

Maioria dos acidentes aéreos podem ter sobreviventes

Primeiro, a boa notícia. “A grande maioria dos acidentes aéreos são sobrevivíveis, e a maior parte das pessoas em acidentes sobrevive”, diz Galea.

Desde 1988, os aviões — e os assentos dentro deles — devem ser projetados para resistir a um impacto de até 16G, ou uma força de gravidade até 16 vezes maior. Isso significa, segundo ele, que na maioria dos incidentes, “é possível sobreviver ao trauma do impacto do acidente.”

Por exemplo, ele classifica o incidente inicial da Jeju Air como sobrevivível — uma possível colisão com um pássaro, perda de motor e pouso forçado na pista sem o trem de pouso funcionando.

“Se não tivesse batido no obstáculo de concreto no final da pista, é bastante possível que a maioria, se não todos, poderiam ter sobrevivido”, afirma.

Já o acidente da Azerbaijan Airlines, considera não sobrevivível, chamando de “milagre” o fato de alguém ter saído vivo.

A maioria dos aviões envolvidos em acidentes, no entanto, não são — como suspeita-se no caso do acidente da Azerbaijan — derrubados do céu.

E, com os aviões modernos projetados para suportar impactos e retardar a propagação do fogo, Galea coloca as chances de sobreviver em um acidente “sobrevivível” em pelo menos 90%.

Ele afirma que o que realmente faz a diferença entre a vida e a morte nos acidentes modernos é a rapidez com que os passageiros conseguem evacuar.

Atualmente, os aviões devem ser capazes de ser evacuados em 90 segundos para obter a certificação. Mas uma evacuação teórica — praticada com voluntários nas instalações dos fabricantes — é bem diferente da realidade de um público em pânico a bordo de um avião que acabou de fazer um pouso forçado.

“Cada segundo conta”

Galea, um especialista em evacuação, realizou pesquisas para a Autoridade de Aviação Civil do Reino Unido (CAA), analisando os assentos mais “sobrevivíveis” em um avião. Sua pesquisa pioneira, feita ao longo de vários anos no início dos anos 2000, focou no comportamento dos passageiros e da tripulação durante a evacuação pós-acidente, em vez de estudar os acidentes em si.

Ao compilar dados de 1.917 passageiros e 155 membros da tripulação envolvidos em 105 acidentes entre 1977 e 1999, sua equipe criou um banco de dados sobre o comportamento humano em acidentes aéreos.

Sua análise sobre quais saídas os passageiros realmente usaram “destruiu muitos mitos sobre a evacuação de aeronaves”, afirma Galea.

“Antes do meu estudo, acreditava-se que os passageiros tendiam a usar a saída de embarque, por ser a mais familiar, e que preferiam ir para a frente. Minha análise dos dados mostrou que nenhum desses mitos tinha base na evidência.”

Em vez disso, a pesquisa de Galea demonstrou que os passageiros sentados dentro de cinco fileiras de qualquer saída de emergência, em qualquer parte do avião, têm a melhor chance de sair com vida.

Além disso, os passageiros nos assentos de corredor têm mais chances de evacuar com segurança do que os que estão nas poltronas do meio e, em seguida, nas janelas — porque há menos pessoas para ultrapassar ao sair.

“A coisa mais importante a entender é que, em um acidente aéreo, cada segundo conta — cada segundo pode fazer a diferença entre a vida e a morte”, explica ele, acrescentando que a proximidade de uma saída de emergência é mais importante do que a localização dentro do avião.

Claro, nem toda saída será utilizável em um incidente — quando o voo 516 da Japan Airlines colidiu com um avião da guarda costeira no Aeroporto de Haneda, em Tóquio, em 2024, apenas três das oito saídas de emergência funcionavam. No entanto, devido ao comportamento exemplar da tripulação e dos passageiros, que evacuaram prontamente, todas as 379 pessoas a bordo do Airbus A350 sobreviveram.

Galea — que atualmente está à procura de voluntários no Reino Unido para testes de evacuação em fevereiro — diz que é melhor escolher uma fila de saída para sentar perto, em vez de espalhar suas chances e se sentar entre duas delas.

O que fazer se uma fila de saída — ou assentos dentro de cinco fileiras dela — não estiver disponível no seu voo preferido?

“Eu procuro outro voo”, diz. “Quero estar o mais próximo possível de uma saída. Se estou a nove, dez assentos de distância, não fico feliz.”

“A sorte favorece a mente preparada”

Então, você fez a reserva do seu voo e escolheu um assento nas cinco fileiras mais próximas da saída. Agora é só relaxar e confiar nos pilotos e na tripulação, certo?

Não é bem assim, de acordo com Galea, que afirma que há coisas que podemos fazer a bordo para aumentar nossas chances de sobreviver a um incidente.

“A sorte favorece a mente preparada”, é o seu mantra. “Se você souber o que precisa fazer para aumentar suas chances, suas chances de sobrevivência vão melhorar ainda mais. Pense em como você sairia [do avião].”

Ele diz ser essencial, mesmo para passageiros frequentes, ouvir a orientação pré-voo da tripulação e entender — de fato — como funciona o cinto de segurança.

“Acredite ou não, uma coisa com a qual as pessoas têm dificuldade [em um acidente] é liberar o cinto de segurança. Você está em uma situação potencialmente de vida ou morte e o cérebro entra no modo automático”, explica ele.

“A maioria das pessoas tem experiência com cintos de segurança em carros, onde você aperta um botão, ao invés de puxar uma trava. Muitas das pessoas que entrevistamos [e que sobreviveram a acidentes aéreos] tiveram dificuldade inicial para liberar o cinto de segurança. Por isso é tão importante prestar atenção no briefing pré-voo. Todos aqueles conselhos são realmente valiosos.”

Ele também recomenda estudar o cartão de evacuação no bolso do assento e, se você estiver sentado em uma saída de emergência, olhar com cuidado como você abriria a porta.

“A saída [sobre a asa] é bem pesada e provavelmente cairá em cima de você,” diz ele.

“Entrevistando uma das pessoas a bordo do ‘Milagre no Hudson’ [o pouso de emergência da US Airways, voo 1549, em 2009], ele estava sentado perto de uma saída sobre a asa e não prestou atenção. Quando o avião estava caindo, ele pegou o cartão e estudou. Ele era engenheiro, então conseguiu entender — mas acho que a pessoa comum, se não tivesse se dado ao trabalho de ler antes, não teria conseguido.”

Galea sugere também manter os sapatos calçados até alcançar a altitude de cruzeiro — e colocá-los novamente quando o avião começar a descer para o pouso. Se você estiver viajando com a família ou com outras pessoas, é importante sentar juntos, mesmo que precise pagar a mais — em uma emergência, a separação pode atrasar a evacuação, pois as pessoas inevitavelmente tentarão se encontrar.

E, onde quer que esteja sentado, conte o número de fileiras entre você e a saída de emergência — tanto à frente quanto atrás. Dessa forma, se a cabine estiver cheia de fumaça — “um dos principais causadores de mortes” em acidentes modernos, diz ele — você poderá se guiar até a saída mais próxima e ter uma alternativa caso a mais perto de você esteja bloqueada.

“As pessoas acham que você é louco,” diz ele sobre os passageiros que observam atentamente o briefing pré-voo, estudam os cartões de evacuação e as portas de saída antes da decolagem. “Mas a sorte favorece a mente preparada. Se você não estiver preparado, é bem provável que as coisas não saiam bem.”

Deixe tudo para trás

Geoffrey Thomas também sabe uma ou duas coisas sobre segurança aeronáutica. Atual editor do site de notícias sobre aviação 42,000 Feet, ele passou 12 anos como fundador do AirlineRatings, o primeiro site a classificar companhias aéreas por segurança.

Thomas afirma que a parte estrutural mais segura do avião é a caixa da asa — onde a estrutura da asa se encontra com a fuselagem.

“Cada acidente é diferente, mas tipicamente, em falhas estruturais, o avião se quebra antes e depois das asas”, diz ele, chamando a caixa da asa de “uma peça estrutural muito, muito forte.” Esse foi o caso do acidente da Azerbaijan Airlines, que se partiu logo após as asas.

Embora Thomas tenha sugerido por muito tempo que os passageiros se sentem sobre as asas, ele diz que o comportamento dos passageiros nos últimos anos o fez reavaliar sua opinião. Hoje, ele acredita que “os melhores assentos são os mais próximos das saídas.” Idealmente, seria sobre a asa — mas não necessariamente.

Isso porque, como Galea diz, a maioria dos acidentes modernos são sobrevivíveis. “A maioria dos acidentes ou emergências de hoje não envolve a perda total do avião — é outra coisa, como um incêndio no motor, falha no trem de pouso ou uma saída de pista benigna,” diz Thomas.

O principal perigo após o impacto inicial é a propagação do fogo e a entrada de fumaça na cabine. Embora os materiais compostos usados nas fuselagens modernas ajudem a retardar a propagação do fogo melhor que o alumínio, eles não conseguem retardá-la para sempre — o que significa que a evacuação é crucial para a sobrevivência.

No entanto, os passageiros parecem não entender isso — ou não parecem dispostos a entender.

“Cada vez mais vemos que os passageiros não querem deixar suas malas para trás, o que atrasa a evacuação do avião, e muitas vezes já vimos casos em que os passageiros não conseguiram sair porque a evacuação foi lenta”, diz Thomas.

Em maio de 2019, o voo 1492 da Aeroflot caiu no Aeroporto Sheremetyevo de Moscou, matando 41 das 78 pessoas a bordo no incêndio subsequente. Os passageiros foram filmados evacuando com suas malas de mão, mesmo enquanto a metade traseira do avião estava em chamas.

“Os aviões são certificados para que cada passageiro consiga sair com metade das saídas fechadas em 90 segundos, mas no momento, a evacuação de alguns desses aviões está levando cinco ou seis minutos, então isso é um grande problema,” afirma.

“O outro problema é que aparecem muitos vídeos nas redes sociais mostrando o interior da cabine com chamas do lado de fora e pessoas gritando. As pessoas estão filmando ao invés de sair do avião.”

Ele acredita que filmar uma evacuação, ou evacuar com malas de mão, deveria ser considerado crime. “Você está colocando a vida das pessoas em risco,” diz ele, sem rodeios.

Ele cita o acidente da Japan Airlines no ano passado como um “exemplo perfeito” do que é possível fazer. A tripulação manteve a calma e evacuou os passageiros de forma eficiente — e os passageiros obedeceram a tripulação. Nenhuma pessoa foi vista levando sua mala de mão — e todos sobreviveram.

Mas ele diz que foi um caso atípico. “Isso é algo cultural — se você tem uma comissária de bordo gritando para deixar as malas, é isso que [os passageiros japoneses] vão fazer. Em muitos outros países, as pessoas pensam, ‘Quem se importa, eu quero minha mala,’” afirma.

Agora, sempre que Thomas voa, ele se senta em uma fila de saída e usa um paletó na decolagem e pouso, no qual guarda seu passaporte e cartões de crédito. “Assim, se eu tiver que sair, poderei, e terei tudo o que preciso comigo,” diz e le.

“Você nunca sabe. Muitas pessoas entram no avião e dizem, ‘Isso nunca vai acontecer comigo,’ e, no momento seguinte, são apenas uma estatística. Eu não arrisco a sorte. Estou consciente dos problemas e do comportamento das pessoas, e tomo medidas para garantir que, em uma situação que espero nunca acontecer, eu esteja em posição de sair e não ser bloqueado por um idiota.”

E quando o avião estiver no chão?

Existem outras medidas que você pode tomar para voar com mais segurança. Shahidi destaca a turbulência como “uma coisa sobre a qual os passageiros podem fazer algo”, como manter os cintos de segurança afivelados o tempo todo.

“Eu uso meu cinto o tempo todo, a menos que eu vá ao banheiro, e vou rapidamente, independentemente do que o capitão esteja dizendo,” comenta. “Estatisticamente, mais de 80% das lesões [a bordo] acontecem com passageiros que não estão usando os cintos de segurança.”

Wu diz que nunca viaja sem seguro de viagem — assim, se algo acontecer e ele perder seus pertences durante uma evacuação, não terá prejuízo.

E tanto Thomas quanto Galea enfatizam que escolher a companhia aérea certa também é fundamental.

“Uma regra geral é que as melhores companhias aéreas pagam bons salários, e as pessoas querem trabalhar para elas — os piores pilotos têm que trabalhar para outras companhias,” diz Thomas, que só voa com as companhias aéreas mais bem avaliadas.

Faça sua pesquisa antes de reservar seu voo — nem todos os países têm os mesmos altos padrões de segurança, ele aconselha, então você precisa de uma companhia aérea que vá além dos padrões mínimos de segurança, onde quer que voe.

Mas, o mais importante é lembrar que, em um acidente sobrevivível, cabe aos passageiros agirem de maneira que permita que o maior número possível de pessoas sobreviva.

“As pessoas são fatalistas, acham que se estiverem em um acidente, acabou — então, nem vale a pena tentar, porque todos vão morrer,” diz Galea. “Mas isso é exatamente o oposto do que acontece. Só lembre-se: cada segundo conta.”

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