Produtor do PR aposta no Tocantins em busca de terras mais acessíveis

Produtor do PR aposta no Tocantins em busca de terras mais acessíveis
Publicado em 14/01/2025 às 09:16

As terras mais caras do Brasil são as do Paraná, segundo estudo da Scot Consultoria. Em julho de 2024, um hectare voltado à agricultura no Estado custava, em média, R$ 60 mil, alta de 107,7% em cinco anos. Em segundo lugar, estava São Paulo, com o hectare custando em média R$ 58 mil,  aumento de 93% no mesmo período.

Mesmo em 2019 os dois Estados já lideravam o ranking de preços de terras no Brasil —  na época, com São Paulo em primeiro e o Paraná em segundo lugar. “Hoje as terras mais caras são em áreas consolidadas, onde não existem mais terras novas a serem abertas para agricultura e onde já está montada muita infraestrutura para a produção, como os Estados do Sul, São Paulo e algumas regiões do Centro-Oeste”, afirma Felipe Fabbri, analista da Scot Consultoria.

A dificuldade para adquirir terras em áreas onde as propriedades têm um preço elevado faz com produtores que queiram expandir suas atividades busquem áreas de fronteira agrícola. Um exemplo é o Tocantins, onde produtores paranaenses, incentivados pela cooperativa Frísia, começaram a adquirir terras nos últimos anos. A intenção de garantir uma sucessão familiar rentável está entre as razões para o investimento.

Geraldo Slob, vice-presidente agrícola da Frísia, foi um dos produtores que fizeram essa aposta. Sua família tinha quase 2 mil hectares em Carambeí, nos Campos Gerais do Paraná. Com quatro filhos, a preocupação sobre o futuro da família quando houvesse a divisão da herança levou o agricultor a buscar áreas fora do Sul.

“Para garantir as atividades, ou ficava restrito à minha área, comprando terras de vizinhos se disponíveis, ou pagando arrendamentos impraticáveis. E nossa região é muito cara, o hectare agricultável (retirando reservas legais, área da sede e outros terrenos não produtivo) pode chegar a R$ 250 mil”, afirma Slob.

Em julho de 2022, ele e os filhos Jasper, engenheiro-agrônomo, e Leon, administrador, decidiram investir em áreas em Tocantins. O contraste era evidente: comprando terras que precisavam ser abertas para agricultura, a família encontrou áreas que custavam R$ 32 mil o hectare agricultável. “Pelo valor de 100 hectares no Sul, era possível comprar 500 aqui”, diz.

Após vender uma pequena área para fazer caixa e formar uma sociedade com o amigo José Divalsir Gondaski, Slob formou a Fazenda Serrinha, em Santa Rita do Tocantins. A propriedade tem 2,2 mil hectares prontos para plantio de soja, milho e sorgo, que podem ser ampliados para 3 mil hectares.

O exemplo dos Slob foi seguido por cerca de 40 produtores do Paraná que se instalaram no Estado com incentivo da Frísia, um trabalho que começou em 2014.

“Tínhamos problemas sérios de áreas no Paraná, com filhos dividindo as propriedades na partilha das heranças e as produções ficando inviáveis financeiramente. Estudamos então a expansão para fronteiras agrícolas, e aqui no Tocantins as terras têm preço bom e disponibilidade”, observa Marcelo Cavazotti, gerente executivo da Frísia no Estado.

Os 110 cooperados da Frísia em Tocantins estão espalhados em 22 municípios do Estado, e têm cerca de 100 mil hectares de área bruta. Desse total, em torno de 60 mil foram comprados por cooperados que migraram do Sul com o incentivo da Frísia, enquanto os demais são de fazendas de produtores já instalados no Estado.

O projeto de sucessão familiar via compra de terras em Tocantins tem dado certo, afirma Cavazotti. Um levantamento da cooperativa identificou que mais de 20 filhos de cooperados estão atuando nas novas terras.

“Alguns decidiram se estabelecer aqui, enquanto outros gerenciam os negócios à distância. Um dos casos mais notáveis é de um jovem cooperado que, com apenas cinco anos de experiência no Tocantins, já planta mais do que o dobro do que seu pai alcançava no Paraná. Isso é uma prova de que estamos no caminho certo”, completa o gerente.

Por Marcelo Beledeli/Globo Rural.

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